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sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Dia do Médico de Família e Comunidade


H
oje (5 de dezembro) é o dia do Médico de Família e Comunidade. Tempo de refletir sobre nosso trabalho, avanços e desafios.

Ao longo do ano fomos premiados com boas novidades e estou certo que outras virão. Como exemplo poderia citar o relatório anual da OMS que adota o Brasil e o PSF como modelo. Na imprensa leiga algumas pérolas positivas como o trabalho do Rigoberto Gadelha Chaves no interior do Ceará onde há alta prevalência de uma doença rara (Doença de Gaucher) e ele passou a entender bastante dela, seguindo os princípios da especialidade. Temos um time de médicos de familia e comunidade batalhando em diversos espaços como Ministério da Saúde, Secretarias de Saude Municipais e Estaduais, Conselhos Regionais de Medicina.
Porém, na semana do nosso dia fomos "premiados" com o artigo de um político, Deputado Dr. Pinotti (DEM-SP), que não bastasse o artigo desastroso, terminou a semana nomeado para uma nova Secretaria Municipal de Saúde criada especialmente para ele (Saúde da Mulher). Estamos tentando intensamente uma resposta na Folha de São Paulo, no mesmo espaço e com o mesmo número de palavras mas ainda não conseguimos.
Divulgo aqui a resposta abaixo para ao menos vocês, sócios e colaboradores da Sociedade Brasileira de Medicina de Famílai e Comunidade tenham conhecimento da atuação da Diretoria e da atenção que este tipo de ação desperta. Estamos trocando a assessoria de comunicação e imprensa bem como em fase de reformulação do lay out do site e este é um campo que precisa sempre muita dedicação.
Enfim, em nome da Diretoria e Conselho gostaria de desejar parabéns a todos nós. Vamos seguir forte na caminhada.

Abraços,
Gustavo Gusso
Presidente (Gestão 2008-10)
www.sbmfc.org.br
presidente@sbmfc.org.br

O Generalista no Sistema Único de Saúde (SUS)

O artigo do Dr. Pinotti publicado nesta Folha no último dia 30 de novembro de 2008 traz dados errados e equívocos conceituais graves. O Programa Saúde da Família (PSF) mantém esta marca que está consagrada mas desde 1998 se tornou uma estratégia de estado e se consolidou como o modelo para reorientação da atenção primária (ou atenção básica) brasileira. No relatório de 2008 da Organização Mundial da Saúde o Brasil é citado 18 vezes sendo o grande destaque justamente o PSF que é visto como modelo para outros países.

Diversos estudos publicados em revistas científicas reconhecidas internacionalmente comprovam a eficácia da estratégia. James Macinko e colaboradores publicaram um estudo em 2006 demonstrando que o incremento de 10% das equipes do PSF leva a uma queda na mortalidade infantil de 4,6%, só perdendo para alfabetização materna. O Brasil já diminuiu a mortalidade infantil para 14,4/1000 e se continuar neste ritmo atingirá a meta do milênio já no ano que vem com 4 anos de antecedência. Outros dados são igualmente errados. Por exemplo, o Dr. Pinotti diz que o PSF atingiu 43024 equipes quando são na verdade 29239 cobrindo 49,44% da população brasileira (dados de outubro de 2008 disponíveis em http://dtr2004.saude.gov.br/dab/localiza_cadastro.php).
Talvez o equívoco mais grave cometido pelo Deputado seja o desprezo pela prática do médico de família e comunidade. A medicina de família e comunidade é uma especialidade reconhecida no Brasil desde 1981 e é a especialidade que o médico da equipe básica do Programa Saúde da Família deveria ter. Ao contrário do clinico geral, o médico de família e comunidade se prepara através de residência médica ou titulo de especialista reconhecido pela Associação Médica Brasileira (AMB) para atender problemas freqüentes da população sem distinção de gênero, faixa etária ou órgão afetado. Não é definitivamente uma amálgama de clinica médica, pediatria e ginecologia. O foco é a pessoa dentro do contexto familiar e comunitário. No dia 5 de dezembro de cada ano comemora-se o dia do médico de família e comunidade.
O número de programas de residência médica em medicina de família e comunidade tem crescido exponencialmente e de 5 programas em 1998 passou a 78 em 2008 mas ainda é insuficiente. O PSF não é inspirado apenas em Cuba como sugere o artigo do Dr. Pinotti. Cuba seguia o modelo de policlínica com internista, ginecologista e pediatra desenvolvido pelos bolcheviques na antiga União Soviética, e defendido pelo Dr. Pinotti, até 1985. Só então passou a contar com o médico de família com formação adequada como primeiro contato do paciente com o sistema de saúde. A Europa Ocidental, e especialmente a Inglaterra, é precursora deste modelo que tem como objetivo não apenas otimizar custos mas, principalmente, aprimorar o acesso do paciente de forma longitudinal (ao longo da vida), coordenada e integral. Para isto é necessária muita tecnologia, não aquela dos tomógrafos e exames laboratoriais, que também são fundamentais quando bem usados, mas conhecimento científico apropriado a atenção primária, relação médico paciente e trabalho em equipe. Inglaterra, Portugal, Espanha, Noruega, Suécia, Holanda, Canadá, Dinamarca e Austrália são alguns dos países com sistema de saúde público forte que adotam o modelo há alguns anos. A pesquisadora Barbara Starfield, Professora Emérita da John Hopkins University, tem demonstrado que países com maior proporção de médicos de família e comunidade em relação ao total de médicos têm melhores resultados.
Uma das maiores falácias em saúde, que o artigo do Deputado Dr. Pinotti recorre, é que “a pessoa pode eliminar a incerteza especializando-se”. Abordar problemas que não são específicos de maneira focal pode significar o início de uma cadeia de erros que não raro traz consequências graves. O Brasil é um pais continental e o primeiro com mais de 100 milhões de habitantes que tenta organizar um sistema de saúde público universal. Os desafios são enormes e talvez o maior de todos seja a formação adequada de um grande contingente de pessoas para trabalhar em uma área de fundamental importância para o sucesso de qualquer sistema de saúde. Não temos tempo nem podemos nos dar ao luxo de perder o eixo e todos, médicos, políticos, professores e população em geral, temos que estar unidos em prol desse objetivo comum deixando de lado vieses corporativistas e pessoais.
Gustavo Gusso , Médico de Família e Comunidade, PSF/ Prefeitura de Florianópolis (SC), Presidente da Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade (SBMFC)
Zeliete Zambon, Médica de Família e Comunidade, Prefeitura de Campinas (SP), Presidente da Associação Paulista de Medicina de Família e Comunidade (APMFC)

Secretaria SBMFC

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